Emergia um fauno
Do raso ribeiro
No qual o vagau, no
Final do verão,
Enfim se banhava,
Qual se de um vulcão
Fosse a água que o lava.
Quando fedia tanto até pra si
Mesmo aquele egipã (filho de Pã
E duma putativa mãe que ri
A quem vem de tarde, noite e manhã),
Tão satiricamente então topava
Atirar o dúbio corpo no rio,
A título de banho: depois dava
Pra correr molhado sem passar frio.
Emergia assim o fauno,
Molhado e mais malicioso
Que um poeta botando sal no
Caldo ralo e malcheiroso
Dado a um hóspede orgulhoso.
Muito mais feliz que um Bozo,
E muito mais angustiado, o
Fauno molhado, dengoso,
Olhava pra todo lado
Com brilho no olhar afiado.
Eis lhe surgem visões mais que belas
Na sagrada e profana quantia
De três, sim, três visões, como estrelas
Numa cinta que ao fauno cingia,
E a linguagem a fim de escrevê-las
Curva turva treva e claro dia.
Que esporro não faria o fauno pelo mato
Se em vez de fauno fosse um malaco em mocó:
A primeira visão fê-lo de estupefato
Ao ‘fêla’ duma putrefata rata só –
Era uma ninfa
Tirando chinfra
De mina punk –
Botando banca
Que a bota espanca
Quem quer que a espanque –
Cabelos verdes,
Nas meias redes
Que arrastam trouxas –
O fauno treme:
Figura o creme
Daquelas coxas.
Só que aquela era uma oréade das montanhas
Que falava um grego de inflexões estranhas:
“Qualé a tua, pé-de-bode, assim, limpinho?
Tá me achando aqui com panca duma puta?
Não sou raspa pra esse teu caminhãozinho.
Tchau, que eu já vou lá cuidar da minha gruta.”
E o nosso herói notou que dói
Não ser bem seu o dom de Orfeu.
Eis que surgiu por sua vez outra visão
Que torceria até do cego Homero a nuca.
Vamos falar o que é, sem mais enrolação:
Mais uma ninfa ao fauno a vista já cutuca.
Aquela tinha a trança tão vermelha
Que ferro, fogo e forja já ajoelha,
A curva da cintura tão macia
Súbito sinuosa desafia
Sob chispa duma pupila de esguelha.
Mais, de-
Mais da
Saia de
Náiade,
Feito ao
Jeito dum
Sim (com per-
Dão da
Língua) en-
Tão dis-
Sílaba e dis-
Cípula
Tinha a te-
Tinha.
Não disse coisa alguma
E sumiu como espuma.
Protestaria o fauno, mas
Não achou as visões tão más,
Pois depois de prima e segunda
Da terceira viu logo: a bunda!
E a seguir notou que era uma loira dríade
Que ele amaria como a uma hamadríade
Mas que tão logo surgiu ia de
De si pra si falando
E a rima atando
Sem mando.
E então pulsou: fogo, fênix,
Facho em flama, fulgor de ônix,
Embebendo ambos num cálix –
Tudo em tantra
Dum só mantra
Salamandra
Mais malandra
Em chamas metamorfoseando-se
Até que como uma escola de escândalos
O fauno e a ninfa foram transformando-se
Numa situação simples lá num bar.
Pois é. Não tem mais o que se estranhar:
Estamos em pleno movimento punk curitibano
Nos idos de sei lá eu nem muito bem qual ano.
Três garotas sentadas numa mesa redonda ali no –
Sim, agora estamos percebendo: é o Bar do Lino.
E tudo termina quando, olhando do balcão,
Um poeta vagabundo comenta a um seu não-irmão:
“Você até parece um Pã, fauno poeta punk fedendo a alho,
Mas cá pra nós não passa dum tremendo pau no c* do c*!”
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