
Aramis Millarch passou pela minha vida em três ocasiões distintas. Nos anos 1970, ele esteve algumas vezes em minha casa. Meu pai trabalhava no antigo DNER, onde Aramis ocupava o cargo de assessor de imprensa. A sua tarefa era, principalmente, distribuir a revista estatal Rodovia – uma publicação de qualidade, a despeito de propagandear as realizações do regime militar. O trabalho era fácil e a maior parte do tempo Aramis martelava na máquina de escrever os artigos que enviava para mais de vinte periódicos usando vários pseudônimos. O jornalista viajava muito e meu pai quebrava uns galhinhos pra ele.
Eu não tinha a dimensão exata daquele gordinho simpático que, com sua inseparável bolsa de couro a tiracolo, de quando em quando passava lá em casa pra tomar um café. Até que uma noite, assistindo ao programa do Flávio Cavalcanti, meus pais me chamaram para olhar quem estava lá participando como jurado: o jornalista, pesquisador e crítico de música e cinema Aramis Milarch. Daí em diante, passei a ler sua coluna n'O Estado do Paraná.
Da segunda vez, foi no comecinho dos anos 1990. O BaaF tinha acabado de lançar a fita K7 "Que Quer o Brasil que me Persegue?", gravada pelo selo Juke Box (seis músicas, Cr$ 500,00!). De alguma maneira, a fita chegou às mãos do Aramis, que a escutou atentamente e fez a única resenha crítica de verdade dedicada a uma banda de rock da cidade. Brasilianista que era, torce o nariz para “Ideas Exploding” (“uma pretensiosa música com letra em inglês”); mas, disseca faixa por faixa, delicia-se com os “minimalistas inserts” e cita Reynaldo Jardim, Gregório de Matos Guerra e todos que se envolveram no projeto. Uma aula para os críticos musicais de plantão e suas escrituras superficiais.
E finalmente, em 2005, ajudando um amigo, fui até a casa de Aramis buscar caixas e mais caixas recheadas de fitas com as gravações feitas tanto na casa do jornalista, como no Museu da Imagem e do Som, em teatros, bares, restaurantes e até nas ruas, em gravadores de rolo ou no gravador cassete portátil que carregava sempre, muitas vezes ligado até mesmo dentro dos táxis, em saguões de aeroportos ou praças. Os bate papos corriam descontraídos, quase sempre acompanhados de ruídos de copos, garrafas e pedrinhas providencias de gelo. Os 30 anos de carreira de Aramis Millarch podem ser acompanhados nestas conversas, nas quais os entrevistados ficavam à vontade para falar do trabalho e da vida pessoal.
Eu não tinha a dimensão exata daquele gordinho simpático que, com sua inseparável bolsa de couro a tiracolo, de quando em quando passava lá em casa pra tomar um café. Até que uma noite, assistindo ao programa do Flávio Cavalcanti, meus pais me chamaram para olhar quem estava lá participando como jurado: o jornalista, pesquisador e crítico de música e cinema Aramis Milarch. Daí em diante, passei a ler sua coluna n'O Estado do Paraná.
Da segunda vez, foi no comecinho dos anos 1990. O BaaF tinha acabado de lançar a fita K7 "Que Quer o Brasil que me Persegue?", gravada pelo selo Juke Box (seis músicas, Cr$ 500,00!). De alguma maneira, a fita chegou às mãos do Aramis, que a escutou atentamente e fez a única resenha crítica de verdade dedicada a uma banda de rock da cidade. Brasilianista que era, torce o nariz para “Ideas Exploding” (“uma pretensiosa música com letra em inglês”); mas, disseca faixa por faixa, delicia-se com os “minimalistas inserts” e cita Reynaldo Jardim, Gregório de Matos Guerra e todos que se envolveram no projeto. Uma aula para os críticos musicais de plantão e suas escrituras superficiais.
E finalmente, em 2005, ajudando um amigo, fui até a casa de Aramis buscar caixas e mais caixas recheadas de fitas com as gravações feitas tanto na casa do jornalista, como no Museu da Imagem e do Som, em teatros, bares, restaurantes e até nas ruas, em gravadores de rolo ou no gravador cassete portátil que carregava sempre, muitas vezes ligado até mesmo dentro dos táxis, em saguões de aeroportos ou praças. Os bate papos corriam descontraídos, quase sempre acompanhados de ruídos de copos, garrafas e pedrinhas providencias de gelo. Os 30 anos de carreira de Aramis Millarch podem ser acompanhados nestas conversas, nas quais os entrevistados ficavam à vontade para falar do trabalho e da vida pessoal.

Aramis Millarch morreu muito cedo (Curitiba, 12 de julho de 1943 - Curitiba, 13 de julho de 1992); contudo, o jornalista atingiu a marca de 50 mil artigos publicados em diversos veículos de comunicação. No acervo compilado por ele também estão 5 mil livros de cinema e 30 mil LPs. E deixou 720 horas de entrevistas com os principais artistas e personalidades do país. Preciosidades que foram recuperadas e digitalizadas em um projeto que resgatou a memória de um dos maiores jornalistas e críticos do país.
O projeto
Em 2006, em um projeto idealizado pelos produtores curitibanos Samuel Lago, Rodrigo Barros Homem d'El Rei e Luiz Antonio Ferreira, patrocinado pela Petrobrás e viabilizado pela Lei Rouanet, foi iniciada a recuperação e digitalização do acervo completo de entrevistas do jornalista, composto por quatro mil fitas. O projeto foi concluído em 2009. Esse material foi disponibilizado em uma coleção com oito DVDs. 450 bibliotecas brasileiras receberam uma doação desse material. As entrevistas foram feitas com 572 personalidades brasileiras, entre elas Gilberto Gil, Cartola, Francis Hime, Nelson Cavaquinho, Elis Regina, Ana Botafogo, Jamil Snege, além de uma rara entrevista de Maysa, a última registrada antes do acidente automobilístico que a mataria, em janeiro de 1977.
Todo o material digitalizado está disponível no site www.millarch.org. O projeto também deu origem ao box com 8 DVDs-ROM. Junto vem um pequeno livro que conta a história do jornalista e fotos.
O projeto
Em 2006, em um projeto idealizado pelos produtores curitibanos Samuel Lago, Rodrigo Barros Homem d'El Rei e Luiz Antonio Ferreira, patrocinado pela Petrobrás e viabilizado pela Lei Rouanet, foi iniciada a recuperação e digitalização do acervo completo de entrevistas do jornalista, composto por quatro mil fitas. O projeto foi concluído em 2009. Esse material foi disponibilizado em uma coleção com oito DVDs. 450 bibliotecas brasileiras receberam uma doação desse material. As entrevistas foram feitas com 572 personalidades brasileiras, entre elas Gilberto Gil, Cartola, Francis Hime, Nelson Cavaquinho, Elis Regina, Ana Botafogo, Jamil Snege, além de uma rara entrevista de Maysa, a última registrada antes do acidente automobilístico que a mataria, em janeiro de 1977.
Todo o material digitalizado está disponível no site www.millarch.org. O projeto também deu origem ao box com 8 DVDs-ROM. Junto vem um pequeno livro que conta a história do jornalista e fotos.
Aramis Millarch, que começou a sua carreira em 1962, recebeu durante sua trajetória profissional diversos prêmios e participou dos principais festivais, concursos e premiações onde a arte ou a cultura eram objeto de discussão. Foi um dos fundadores da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira e seu primeiro presidente. E um dos poucos paranaenses que recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo.
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