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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O EP DO CAIO MARQUES JÁ ESTÁ NA PRAÇA!


caiomarques.com

Faz vinte anos que a gente fala do Caio Marques. É comum ouvir por aí que o cara toca muito violão, e que nunca aprendeu a compor: nasceu sabendo. Dizem que esbanja melodias, a ponto de esnobá-las. Tudo verdade. Que economiza no grude e no açúcar, sem deixar de ser pop. Sim, dou fé: é música da melhor qualidade — e assobiável. Mas o Caio não é mudo nem bobo, também sabe o que cantar entre dois refrões. O que dizer das letras dele? Simples: eu digo que elas são — e roubo aqui a ótima definição de Antonio Candido para a crônica — uma “conversa aparentemente fiada”. Aliás, sempre fui fã da naturalidade do Caio, como cantor e letrista. Com ele, é sentar e ouvir história. Se bem que sentar nem é grande vantagem. Há algum bailarino entre os leitores? Pois saiba que a praia do Caio é exatamente a tua: ele faz música pra dançar.
Bem, elogiei um amigo, é verdade, e aceitarei sem choro a acusação de amizade dolosa — o mais doce dos crimes. Não ligo, e até aponto, contra mim, dois agravantes. Primeiro: faz vinte anos que somos parceiros musicais, o Caio e eu, e já dividimos palco e microfone, caneta e papel, algumas centenas de vezes. Segundo: o produtor deste novo EP do Caio, Calada, também é meu chegado. Trago o Rodrigo Stradiotto no peito desde, sei lá, o queimar das luzes da década de 80. Minha defesa, porém, não virá de mim: se fará ouvir na música inventada por essa afiada dupla de artistas.
Fato é que há meses venho acompanhando a produção de Calada e, a cada nova faixa que recebia, eu dava uma ou duas voltas a mais no parafuso já oxidado das minhas convicções: a coisa era séria, a coisa era séria. Nesses vinte e poucos anos de carreira — passados em bandas como Frutos Madurinhos do Amor, Gente Boa da Melhor Qualidade, Bad Folks —, o Caio cresceu muito, e cresceu à sombra, na calada, em Curitiba — a propósito, ouçam “Nada demais” e vejam o que isso significa. Cresceu e amadureceu como compositor, como criador de metáforas e imagens fortes e bonitas — algo bastante perceptível na bela canção “Restinga” —, sem abrir mão da ironia de sempre — prova disso é “o videoclipe dos Titãs” usado para corroborar certa “política antinostalgia” do nosso cantor, em “Tédio”.



Não, o Caio não é mesmo um saudosista, nem um mero cultor da novidade-a-qualquer-preço. Ele é bom de equilíbrio. Alia o seu gosto por Prince e pelo hip-hop tradicional de Public Enemy e Grandmaster Flash ao interesse renovado pelo R&B e pelo folk contemporâneos e à black music feita por sujeitos como Kanye West, Big Boi Patton, Andre 3000. Eu, no entanto, afirmo (mesmo correndo o risco de errar): ainda se pode perceber, no trabalho do Caio, a influência de velhos sambistas cariocas e de gente como Chico, Caetano e Arto Lindsay, músicos que ele seguia muito de perto na adolescência. Apurando bem o ouvido, sou até capaz de jurar que detectei, neste EP, um ou outro eco de Moraes Moreira e dos Novos Baianos. Procurem direito, eles estão por ali.
Do Rodrigo, falarei menos, mas tão bem quanto: compositor e guitarrista, membro fundador do Woyzeck, ex-Excelsior, ex-produtor do Copacabana Club, meu associado no blog de literatura e música Eletroficção desempenhou um papel fundamental em Calada. Em seu estúdio caseiro no Água Verde, editou, de acorde em acorde, os takes das bases de violão pré-gravadas pelo Caio. Suprimiu sobras, decretou silêncios, sobrepôs dissonâncias, saltou madrugadas. Criou superloops que, preservando a riqueza harmônica do original, ganharam em peso e em pausas. A partir disso, programou os beats e elaborou os arranjos. Deu no que deu, classe A, confiram.
Passei do ponto, eu sei; este texto nem era para ser explicativo. Não é crítica, é panegírico no duro. Dia desses, li um posfácio do Valêncio Xavier para uma antologia de contistas. Começava assim: “Eu não acho nada”. Pois é, ele não achava nada, e eu achei isso excelente. Cabe aqui: um texto não pode dar conta de uma música; um texto não pode convencer ninguém a gostar de uma canção pop. E nunca foi essa a minha intenção. Ao escrever este texto, eu só queria dizer que gosto muito do Calada. Que o Caio e o Rodrigo são meus amigos. E que me orgulho muito deles. Quem estiver comigo assine embaixo.

Luis Henrique Pellanda

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