Páginas

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Mister Jack - Mister Blues - Uma banda vigorosa de blues nascida em Curitiba

O BLUES NASCE EM CURITIBA!

Bom vou falar um pouco de uma das bandas que mais adoro nessa cidade de Curitiba, de quem eu produzi o primeiro disco com muita honra em 1995, quando Curitiba tinha poucos CDs na cena e foi um dos primeiros CDs prensados na cidade (diga-se bem, de blues foi o primeiro). Essa banda se chama Mister Jack que pra mim sem sombra de dúvidas é a máxima e o top que a nossa cidade já ofereceu no estilo “Blues”.

A Mister Jack foi descoberta em 1993 num festival do antigo Bar Hangar (sim aquele antro metal da cidade de Curitiba do início dos anos 90) que abria espaços para bandas boas e para bandas emergentes que tocavam cover, porém num “chist” de loucura eles organizam e protagozinam um festival de bandas onde o foco era música autoral! Lá descobri após Marcelo Ricciardi (guitarrista da banda) subir no palco usando minha mesa de apoio (eu era jurado e ficava na boca do palco naquele dia) de escada e quando o mesmo apoiou sua força pra subir, simplesmente virou um copaço de uísque em cima de minhas fichas, pronto, iniciava-se ali o fim do julgamento....kkkkkk.....e a banda imaginava já uma desclassificação no festival...kkkkk.....óbvio que não, porém no meio de tantas bandas autorais eu estava ali a convite de muitas pessoas envolvidas com o festival e o meu intuito era encontrar uma banda para lançar pelo meu recém criado selo Franzini Records.

Simplesmente quando estes caras subiram ao palco, tocaram um som próprio chamado “Vem baby comigo” onde um louco magrelo simplesmente destruía uma gaita com seu sopro poderoso num microfone "Astatic"e um outro cara que parecia John Belushi com suas enormes costeletas detonava uma guitarra estrondosa riffando junto com aquela gaita alucinante como eu nunca tinha visto até então. Nem Flávio Guimarães do Blues Etílicos que já era uma entidade na gaita de boca me impressionara tanto quanto aquele muleque magrela, cujo nome estava na minha ficha “Benevides Chiréia”, na Guitarra, Marcelo Ricciardi, na batera, André Ricciardi, no Baixo Sérgio Vianna da Silva e nos vocais Eduardo Alvarenga. Nascia ali um interesse danado numa das bandas que consideraria revelação.

Pois bem festival encerrado, outra banda fora a vitoriosa, mas o contato fluiu e comecei a freqüentar ensaios e participar da vida daqueles caras, dando toques e tentando ajudá-los com algo que os fizesse buscar um lado comercial, sem sair daquela estética fantástica de som que eles tinham, mas buscando algo comercial, assim como o Blues Etílicos (minha referência de produção da Eldorado Discos). Comecei a me deparar com músicas cada vez melhores e versões incrivelmente lindas e então propus, iai galera vamos gravar um CD???

Pronto esta intimada fez ferver a mente daquela molecada que tinha um gás danado e muito som na cabeça. Nascia então a primeira gravação da Franzini Records, bem como a primeira do Mister Jack, uma banda de blues incrivelmente personal, diferente e que misturava baião, blues, forró, com roupas e figurinos incrivelmente engraçados e puxados para os gângters com chapéus e boinas das casas Edith e ternos e sobretudos antiquados e pretos, gravatas borboletas, cada um no seu estilo, mas tudo com muita personalidade.

Esse disco sai em 1996, após uma tribulada mixagem que nos fez esperar seis meses um desgraçado de um japonês da Tascam vir consertar nossos gravadores em Curitiba.


Esse CD botou a banda no circuito nacional de blues e recebeu elogio das filhas do mestre “Little Walter” (Walter Jacobs) onde Juan Carlos Barguil, presidente de finanças da editora do mestre Jacobs nos forneceu as autorizações de regravação através do escritório carioca do Senhor Bruno Quaino Editores. Seu Bruno nos comunicara, falei pessoalmente com as filhas do Walter, elas amaram as versões de vocês e disseram que a banda tem grande potencial de expansão internacional. Aquilo alimentou os músicos e seus egos, e nos pôs para mais de 100 shows por ano num contrato que durou 3 anos na estrada com essa galera.


Hoje “Benê Jr” é reconhecidamente um dos maiores gaitistas de blues do mundo, onde quer que venda uma gaita da Hering (diatônica) dentro dela você encontrará um métido prático de ensino assinado por esse cara, tendo tocado na Orquestra de Harmônicas do Paraná (Uma das únicas do planeta) sendo discípulo de Ulisses Cazallas e Ronald Silva dois respeitadíssimos nomes do instrumento de sopro citado com quem aprendeu muito bem a dominar as técnicas, sendo endorsee exclusivo da Hering do Brasil indo inclusive representar a Hering na Musikmese em Frankfurt, maior feira de musica do mundo em 2009/2010.

Marcelo Ricciardi, um dos grandes guitarristas do blues brasileiro, aprendeu tudo autodidata e teve alguns toques do mestre Cândido Serra (mesmo professor de André Cristovam, alguém conhece?) com quem aprendeu muitos licks de jazz e aperfeiçoou sua guitarra ainda mais. Tocou com grandes feras da música, sendo um dos participantes da banda do famoso e conhecido Padre Reginaldo Manzotti, gravando seu DVD para um milhão de espectadores em Fortaleza – CE no ano de 2010. Marcelo ainda hoje toca no Mister Jack junto com Benê e a dupla leva adiante ainda mais trabalhos paralelos onde tocam chorinhos, tangos, blues, standard jazz e um repertório variadíssimo de música brasileira (Belchior, Elis Regina, Novos Baianos entre outros artistas).

André Ricciardi, saiu da banda Mister Jack após a gravação do segundo disco Sinais de Fumaça, logo após o fim da turnê deste grandioso trabalho da banda, montando na sequência os projetos Soulution Orchestra e Big Time Orchestra, ambas que obtiveram êxito grandioso indo a programas como Hebe, Jô, Ronnie Von e em turnês internacionais visitando Japão, Las Vegas em grandes turnês em que a banda foi o foco principal de festivais e eventos corporativos onde foras convidada. André deu umas férias em sua carreira em 2010, sem idéia se volta ou não a atividade nos palcos, mas ainda continua por detrás da produtora Great Curitiba, responsável por grandiosos shows em Curitiba como Mutantes, The Cult, Sandy & Júnior entre outras grandes atrações, ou seja, nunca se afastou de grandes produções, sem esquecer que sairam la daquele festivalzinho de garagem de um boteco de bêbacos de Curitiba.

Eduardo Alvarenga, conhecido como Pingo, seguiu seu rumo na música após a gravação do primeiro disco do Mister Jack, seguiu seu rumo como vocalista e criador da mega banda de "disco music" Nega Fulô e logo depois indo cantar em várias bandas de baile de sucesso de Curitiba onde até hoje está na ativa, conhecido apenas como Dudu.

Sérgio Vianna da Silva, O Jabá, logo após a turnê do primeiro disco do Mister Jack, seguiu seu rumo, indo tocar com grandes bandas de Blues de Curitiba, mas sem o compromisso de efetivamente estar a disposição da arte em tempo integral. Apenas curtindo o que fazia, sem o stress que turnês e a estrada provocava, além claro da exigência em tempo integral para a atividade que nem sempre fora muito lucrativa financeiramente.

Foi uma fase maravilhosa para o Blues de Curitiba, onde a banda abriu picadas muito boas para os que vieram depois deles e o mercado dessa forma pode conhecer esta grande banda bem como revelar outras bandas influenciadas por eles ou mesmo que participavam do circuito com eles.

A Banda até hoje vive, abriu shows de B.B.King, tocou em grandes festivais nacionais e ainda toca a convite dos produtores de São Paulo e Rio de Janeiro, inclusive em 2011 tocaram em Fortaleza no maior festival de blues do Brasil. Todos seguindo carreiras paralelas e levando com calma suas vidas de músico hoje muito melhor administradas sem o sonho utópico de viverem de música, mas com a garra de sempre de empunhar seu instrumento e por o pé na estrada!

Texto por Rogério Franzini.


Nenhum comentário:

Postar um comentário