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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O BAIXO SÃO FRANCISCO (I)
Paulo Dalla Stella




Não estamos no Rio, nem perto da praia, olhando o mar. Não temos mais Cazuza e não fomos “ainda” cantados por Caetano, Marina, ou Paralamas...  Talvez não tenhamos ainda o glamour do primo mais velho e famoso BAIXO LEBLON e tempos mais boêmios e românticos dos anos 70 e 80, há muito ficaram para trás, mas, quem se importa com comparações desde que sejam apenas para servir de referência, certo? Pois então, apesar de tudo, neste começo de século 21 em plena fria Curitiba e longe do cheiro de maresia, mesmo sem querer e meio que já tarde, começamos a sentir ares de boemia e efervescência cultural em uma área só nossa: O BAIXO SÃO FRANCISCO.
O Baixo Leblon, famoso pelas celebridades que lá frequentavam e pelas inúmeras opções de barzinhos e petiscarias e parada obrigatória de intelectuais e da galerinha artística e alternativa começou assim também, de repente, sem que fosse planejado. Um belo dia “Boom” estava famoso. Nosso Baixo São Francisco, que tem esse nome por razões de topologia mesmo, pois fica “lá pra baixo do largo da ordem”, descendo a Trajano Reis, pode até ainda não ter ninguém tão famoso assim circulando por entre seus tantos recém-abertos bares, mas olha só: Tá bombando! Tudo bem que de uma maneira ainda um tanto discreta e sem fazer alarde. Meio tímida e reservada para combinar com Curitiba mesmo.  Mas, basta dar uma voltinha por lá, “descendo” a Trajano, em direção a Inácio Lustosa, com a opção de um desvio estratégico na Paula Gomes ou subindo um pouco a Carlos Cavalcanti e Duque de Caxias, que qualquer um poderá notar que mesmo ainda sem fama, Curitiba já possui seu bairro boêmio, situado na região mais antiga da cidade que, porém, carrega a opção de entretenimento mais nova.  Casas de show estilo alternativo, com apresentações musicais, teatrais e até cinema, bares descolados, cafés bem transados... Tudo isso envolto em uma aura meio blasé, mas amigável, meio europeia, mas com toque do que há melhor no Brasil e completamente “cool”... Sim, pois parte de ser isso é justamente não se falar sobre o assunto, então me proponho aqui, humilde e ingenuamente, a apontar o dedo, como o menino que revelou que o rei estava nú* e sob a pena de parecer indiscreto dizer: O Baixo São Francisco existe!
Para ilustrar esta teoria, que longe de ser conspiratória, pois se lembrem: “Não está sendo planejada” (Pelo menos conscientemente), batemos um papo informal com algumas pessoas que fazem parte ativa da construção deste novo conceito de zona de entretenimento alternativo metropolitana, para que através de seus nobres relatos pudessem explicar de suas maneiras o que acontece no novo Baixo São Francisco, que mesmo ainda sem grandes parcerias formadas (Curitibano não faz parceria, o que é isso?!) começa a despontar no horizonte de interessantes áreas culturais do país e a desmistificar alguns aspectos da cultura local, como esse mesmo relacionado com parcerias, por exemplo. Estes relatos serão divulgados em uma série de artigos numerados nas próximas semanas, pois infelizmente, não caberão em uma só matéria. Aproveitem e acompanhem.

Daniel Schmitt Carvalho - (Brooklyn Café, Rua Trajano Reis, 389)
Daniel, músico, super culto e experiente, que passou alguns anos de sua vida ralando nos Estados Unidos de onde trouxe a inspiração para o nome deste tão charmoso e inigualável café situado bem no meio de toda essa efervescência, tanto acreditou no potencial desta região que quando aqui chegou, não teve dúvidas, foi logo, ele e sua esposa, investindo pesado para montar o que é hoje um espaço de sucesso no baixo São Francisco. O Brooklin café que possui uma sofisticada, mas simples estrutura contendo uma incrível máquina de café, única no estado inteiro, não só proporciona um dos lugares mais agradáveis para se tomar o que certamente é um dos melhores cafés da cidade, como cria todo um clima que combina extremamente bem com a região. Seu teto alto, (Altíssimo), seu piso de chão de mais de 100 anos (charmosíssimo) e a qualidade de seus produtos e serviços, assim como o público de estilo alternativo e descolado, não nos deixa dúvidas: O Baixo São Francisco existe! Daniel espera ainda haver em um futuro próximo, maior apoio da administração da cidade para esta área e sugere até o “fechamento” da rua, com eventos casados entre as casas de show, bares e cafés em um acontecimento de total integração cultural entre público, artistas e donos de estabelecimento. Quem disse que Curitibano não faz parceria, hein? Daniel, que provavelmente trouxe isso dos Estados Unidos também, acredita que não há competição entre os vários e recém-estabelecidos espaços e que quanto mais casas como a sua abrirem, mais público haverá e com isso todos ganharão...  Perfeita visão do perfeito “win-win situation” em uma perfeita época para a cena cultural local.

Kamille Batista (Curitiba) e Eduardo Liporacci (São Paulo) – Clientes e frequentadores do Baixo São Francisco.
“Curitiba é muito engraçada. A gente houve falar que aqui todo mundo é fechado, que não dizem bom dia no elevador e tal, mas quando venho pra cá e principalmente quando circulo pelos bares do Baixo São Francisco, consigo não somente fazer amigos como sinto que o nível da conversa totalmente desprovida de preconceito e a intensidade com que relações são formadas tão rapidamente, põem por terra qualquer julgamento de que se trate este de um lugar antissocial. Isso aqui é demais!” Quem disse isso foi o Eduardo, que mora em São Paulo, vem sempre pra cá e que pensa seriamente em fixar residência por aqui... “Bem, já estou aqui há dois meses, tudo indica que acabarei ficando...” acrescenta Eduardo.
“Não sei se é porque estou por demais entusiasmada com a qualidade de entretenimento que encontro por aqui, mas a diversidade de lugares legais pra se ir, o clima geral de descontração aliado a um “quê” de Europeu onde diversas tribos urbanas convivem em harmonia embora não necessariamente juntas, me faz sentir como se não precisasse colocar uma máscara ou fazer caras e bocas em uma tentativa frustrada de ser quem eu não sou. Adoro o clima alternativo e descolado do baixo São Francisco”. Desta vêz, foi a Kamille a falar. Ela reside em Curitiba mesmo, mas está sempre no Rio de Janeiro onde ela acha que considerando as devidas proporções, não está tão na frente assim de Curitiba em termos de diversidade de entretenimento e que basta que o Baixo São Francisco seja descoberto por mais pessoas, havendo  um pouco mais de investimento,  para que se torne um dos espaços mais “maneiros” do Brasil.

Estamos aqui em Curitiba, exatamente no bairro mais antigo da cidade, olhando seus prédios centenários, o ano é 2012, a ditadura há muito se foi (Pelo menos igual àquela do tempo áureo do primo mais velho, baixo Leblon), o cheiro, longe de ser de maresia, remete a ares ainda que Britânicos, pelo menos na aparência e atitude. Embora nosso comportamento autofágico  nos impeça, por força incrível de hábito a não notar nosso próprio glamour, mesmo sem praia e sem Lobão, estamos meio sem querer e sem grandes investimentos, formando um grande momento na história cultural da cidade e quiçá do país. Obrigado Cazuza, Djavan e Simonal pela referência de passado, parabéns Daniel e todos os outros que estarão aqui nas próximas semanas, pela construção do futuro. Sim gente, O Baixo São Francisco existe!  (Em breve...  continuação...)

*
Alusão à famoso conto de Hans Christian Andersen, que tem como moral da história, se apontar o óbvio, que de tão óbvio e correto, todos tem vergonha de revelar.

                                                  


6 comentários:

  1. Uma resenha inteligente que incita a curiosidade para conhecer o Baixo São Francisco. Uma viagem estimulante por suas palavras.

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  2. Paulo! parabéns pelo seu histórico, esta é a nossa belíssima Curitiba, uma cidade amigável, charmosa e com seu estilo européia como sempre.

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  3. Muito interessante, desconhecia a proposta do Baixo São Francisco.
    Raquel

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  4. bacana... vivendo e aprendendo... isso é legal e que possa servir de geração em geração... Bacana... Luana

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  5. Parabéns pelo excelente trabalho Paulo!!! Handerson Banks!

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